terça-feira, 23 de novembro de 2010

Para McCartney




Dois dias atrás vi minha memória acontecendo. Estava no palco do Morumbi, aos 68 anos. De paletó azul, ele me colocou ao lado de uma multidão com suas memórias também. Transformamos juntos tudo em lágrimas, berros, pulos e alegria.
Minhas infância teve sempre muita trilha sonora. A vitrola parecia tocar sozinha, de tanto que trabalhava. Eu fazia coreografias de criança no meio da sala. Beatles imperava porque a adolescência do meu irmão acontecia junto à minha infância. E porque Beatles não tem idade certa para cair no coração.
Foi assim que aprendi música, que entendi inglês, que vi dança, idolatria, encanto e até a morte. John Lennon me mostrou o que era luto. E o que era luto à distância. E como poderíamos amar pessoas sem conhecê-las.
Hoje Beatles é o fio da família. Leva a gente ao choro, à risada, ao game. A gente se reúne, lembra das canções, encara o microfone e se divide em lembranças e presente. O choro vem sempre, porque é emocionante ver a linha que nos amarra assim tão forte, tão inquebrável. E ela sempre traz alguém novo.
No palco do Morumbi, Paul McCartney nos faz cair em alívio. Vale a pena sentir tudo por ele, vale a pena idolatrá-lo. Ele é bom, simpático, jovial, forte, íntegro. Está sempre presente. Vem para ficar conosco aquelas horas. Engole as lembranças tristes só para nos levar com ele à emoção. Não falha. Não quer pouco nunca. Não tem limites. É o que queremos que ele seja. O que precisamos. E nos entregamos sem pensar duas vezes. Valeu.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Boas memórias 1


Qual a relação de felicidade e boas histórias para contar? Completa. É o nosso olhar procurando novidade, encantando-se com o que vê. Nova York é uma cidade de muitas. Muitas vozes, muitos sotaques, muitos idiomas. Muitas cores, formatos, texturtas, cheiros e sabores. E tudo se junta numa em jeito de ser, jeito de viver. No jeito de se vestir, de se ver, de se gostar. No jeito de querer conhecer, trocar.
E é isso que fica.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010


Tem vermelho que some no meio de tanto cinza. Mas este teima em aparecer, para ter chance de amar e se renovar todos os dias, ainda bem.
Como diz uma amiga minha bem novinha, que talvez ainda não saiba muito sobre o amor, mas já entende muito da vida: "é um sonho que existe!".

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Eu amo esse Manoel

Poesia é voar fora da asa.

Manoel de Barros

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O futuro espera

Ele fica lá a nossa espreita.
Muitas vezes cobra como uma mãe comandante.
Outras, sorri como um sábio que vê seu aprendiz chegar aos limites, enfrentá-los e se preparar para os próximos.
É um peso olhar para ele. Muitas expectativas, sonhos, sorrisos. Está tudo nele.
Quero preenchê-lo.

domingo, 8 de agosto de 2010

vida-morte-vida

A espera, a angústia, a incerteza, a espera.
Lembranças de tempos com muito tempo, de outras ideias, importâncias.
Dá saudade. A gente acha graça de tudo. Relaciona os fatos, pensa sobre tudo. Quando a gente é criança, os pensamentos voam de jeito diferente. Quando eles voltam na gente já adulto, têm uma velocidade lenta, se encaixam. Se fazem sentido. Nos fazem sentido. E nos fazem como somos.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Piloto salva a vida dele, tripulação e 171 passageiros. Mas e a daí??

Acabo de ler na Folha que um voo da TAM poderia ter terminado em tragédia ontem: tinha uma outra aeronave no meio do caminho.


Voo da TAM faz manobra para impedir colisão no ar
Equipamentos de bordo apontaram que havia outra aeronave na rota

Avião se aproximava de Congonhas com 171 passageiros; Infraero diz que posto médico não atendeu ninguém

ANDRÉ MONTEIRO
DE SÃO PAULO

Uma aeronave Airbus A320 da TAM teve de realizar uma manobra ontem no início da noite ao se aproximar do aeroporto de Congonhas (zona sul de São Paulo) para desviar de uma outra aeronave, que não foi identificada.
Segundo a TAM, o comandante do voo JJ-3717, que vinha de Brasília para São Paulo, teve de fazer uma "manobra evasiva" após os "equipamentos de bordo terem detectado a presença de outra aeronave na mesma rota".
Ainda de acordo com a companhia, "o comandante seguiu os procedimentos de segurança prescritos para essas circunstâncias". Os passageiros, segundo a TAM, foram informados e desembarcaram em segurança às 18h48, como estava previsto.
A Infraero, que administra Congonhas, confirmou que o pouso ocorreu nesse horário sem problemas e que não foi informada de nenhum incidente envolvendo o voo.
O avião estava lotado, com 171 passageiros a bordo. De acordo com a Infraero, o posto médico do aeroporto não realizou nenhum atendimento a passageiro da TAM.
Um dos passageiros era o senador Romeu Tuma (PTB-SP). Ao portal de notícias G1 ele disse que o comandante informou que teria de fazer uma manobra ríspida e que a aeronave "afundou em direção ao chão e deu uma balançada". Ele afirmou ainda ao portal que houve gritaria e que tudo "foi muito rápido".
De acordo com Ronaldo Jenkins, diretor do Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aéreas), o mecanismo que fez o avião desviar é o TCAS, sistema que indica ao piloto que direção tomar em caso de risco de choque.
Em nota na noite ontem, o Comando da Aeronáutica informou que "já iniciou a investigação" para apurar as causas do incidente.



Cadê o nome do piloto????? Se a nota está correta, ele fez o que devia fazer. Merecia palmas. Será que alguém tentou ser identificado? E isso não deveria ser a manchete principal???? A notícia é boa... ah, tá.

sábado, 8 de maio de 2010

A palavra

Palavras não são más
Palavras não são quentes
Palavras são iguais
Sendo diferentes
Palavras não são frias
Palavras não são boas
Os números pra os dias
E os nomes pra as pessoas
Palavra eu preciso
Preciso com urgência
Palavras que se usem
em caso de emergência
Dizer o que se sente
Cumprir uma sentença
Palavras que se diz
Se diz e não se pensa
Palavras não têm cor
Palavras não têm culpa
Palavras de amor
Pra pedir desculpas
Palavras doentias
Páginas rasgadas
Palavras não se curam
Certas ou erradas
Palavras são sombras
As sombras viram jogos
Palavras pra brincar
Brinquedos quebram logo
Palavras pra esquecer
Versos que repito
Palavras pra dizer
De novo o que foi dito
Todas as folhas em branco
Todos os livros fechados
Tudo com todas as letras
Nada de novo debaixo do sol

POR TITÃS...

sábado, 1 de maio de 2010

Que texto sou eu?


"... o texto que hoje eu sou". Não sei se foi um ato falho ou coisa do tipo, mas foi esta frase que me mais me marcou do excelente encontro que ontem a equipe com quem trabalho na Crescer teve com o jornalista Moisés Rabinovich. Ele foi contar suas histórias e falava de como ele e seu texto foram construídos em sua carreira. E por que o texto "É" ele? Por que é isso que acontece, ou deve nos acontecer: o texto de um jornalista deve nos acontecer.
O bate-papo, claro, foi permeado pela busca de um bom texto hoje. Ao falar da sua experiência como fundador do Jornal da Tarde, ele me jogou à final de infância e adolescência, quando este jornal habitava todos os dias a mesa de jantar da sala, todas as manhãs. Meu pai lia o JT e eu fui me interessando também. Não se naquela época ou somente depois, mas eu adorava os títulos com pontos, o jeito de contar as histórias. Era isso. Eu gostava do jeito de contar uma história. E até hoje é o que mais me atrai é o que chamamos de "personagens".
Quando vivi o projeto Bebês do Brasil - que se tornou um livro - lembro me de como acompanhar aquelas famílias às voltas de seu lindo bebê era um escrever constante. Cada louça lavada, fralda trocada, carinho na cabeça ou detalhe contado ali para mim, cada instante que a história comum daquelas pessoas se tornava um registro, eu me sentia escrevendo o texto. Ali já começa a busca pela palavra perfeita.
Meu primeiro grande guia de como escrever, o jornalista Milton Bellintani, uma disse em sala de aula que sofria toda a vez que sentava para escrever. Isto me marcou para sempre e não como uma condenação, mas como um alívio: para mim, escrever é sofrimento e aí está sua beleza. Só em sofrimento, só na busca da palavra que melhor vai expressar o elo entre a história "presenciada" e eu é que vou daquele texto meu. Só assim vou chegar ao "texto que eu sou".

Este bebê lindo é Cristian, do Rio Grande do Norte, um dos retratados no livro Bebês do Brasil, lançado pela Editora Globo, foto de Fernando Martinho, que viveu a história dele comigo

domingo, 4 de abril de 2010

A um passo de um dia de fúria


Filas... ai, as filas. Basta ter um problema com celular - e ser "convidado" pela atendente via telefone que o caso só será resolvido pessoalmente, na loja - para já imaginarmos a fila.
Pois fui acompanhar um cliente em uma loja Vivo, a do Shopping Villa-Lobos, com um problema bizarro: o Iphone dele com acesso a internet ilimitado não acessava a dita cuja de maneira alguma. Ao contrário do que previ, o atendimento foi rápido e bom apesar de não poder resolver o problema na hora. Sim, pasmem: a Apple, nossa perfeição e amada fazedora de tecnologia que aceitamos tão bem, fez um Iphone com defeito. Vamos trocar assim que chegar um na loja.
De problema ainda no bolso, mas com esperança de solução - sim, será que os seres que nos atendem a todo o lado podem finalmente entender que se não há uma solução imediata, que pelo menos nos dê uma boa satisfação que a gente aceita com paciência? Cliente não é burro, oras! - fomos em busca de ir embora do Shopping Villa-Lobos.
Rodamos o lugar até achar o caixa para pagar o estacionamento. Demos o cartão, o dinheiro e pumba! "Um minuto, senhor, porque o cartão travou". Travou? Tá e como faz agora? Ela pega seu walk-talk e chama alguém. Minutos, minutos, minutos, minutos... 20 se passavam e nada.
- Não há como ter aí um cartão extra, pra liberar a gente?
- Não, nada acontece se esse cartão não sair da máquina.
- Não há como ter um segurança lá embaixo, avisado, que possa nos liberar?
- Não, nada acontece se esse cartão não sair da máquina.
Já comecei a me imaginar lá velhinha, sem banho - não há chuveiros em shoppings, há? - sendo acusada de largar o trabalho, meus familiares indo lá me visitar, eu me tornando notícia de jornais tipo o personagem do Tom Hanks em O Terminal. Justo eu, que não tenho o menor saco pra shopping sem ter um motivo específico...
E fui ficando lá. A cada um que parava, eu dava notícia:
- O cartão travou a máquina, não está funcionando.
Contei uns 12 ali,
Enquanto meu acompanhante tentava convencer a caixa que ele poderia ajudar - "você tem um clipe?", foi a última coisa que eu ouvi sair da boca dele antes de olhar para frente e encontrar um casal de amigos e pensar "nossa, vivo de coincidências mesmo".
- Ah agora entendi porque estou passando por isso! - brinquei com eles e realmente acreditei no que falava. Enquanto me distraía, meu acompanhante, sim, pegou o clipe, enfiou na máquina e ajudou a pessoa a tirar o cartão. Estávamos livres!!! Sem ficar velhinha no shopping Villa-Lobos!
Despedimos dos amigos, descemos felizes rumo à liberdade. Mas isso não foi tudo.
Quando colocamos o famigerado cartão na máquina, observados por um daqueles garotos que ficam ao lado da cancela vez ou outra, ele travou. Claro.
- Senhor, por favor vire para cá.
Achamos que era algum problema com uma saída e ele então estava nos encaminhando à outra.
- Continue reto.
Como assim? Para onde vamos?
Um rapaz nos encaminhou para uma fila de carros, em direção oposta à saída. Parecia um pesadelo.
- O senhoe aguarda aqui que vamos resolver o seu problema.
Que problema?????
O rapaz não teve a capacidade de perguntar para gente sobre o comprovante de pagamento, por exemplo, o que comprovaria nossa total honestidade ali.

E voltamos para a saída. E saimos, claro, sem saber o que raios havia acontecido. Porque levar 40 minutos para sair de um shopping já era tempo suficiente para termos a conquista da liberdade. Não?
Grrrrr...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Coisa de dentro da gente


Hoje eu acordei chorando. Mas não percebi. Deixei a angústia ficar me roendo o dia todo, feito um bichinho cheio de fome, de vontade.
A gente não dá nome à angústia e fica o dia todo tentando entendê-la. Passei o dia assim: pensando em fins e começos, voltas, vidas paralelas possíveis. Sonhei outras realidades. Chorei de novo, sem notar.
O bichinho continuou caminhando. Me levou ao extremo, me deu algum espaço para risadas nonsense.
Me trouxe um livro.
E uma menina e uma infância. Uma infância de descobertas e comparações. De conquistas. De poesia de criança.
Me trouxe uma boa notícia: Gael havia nascido duas horas atrás. Uma infância começando, uma infância que quero acompanhar de perto.
Mas quero ser outra.
Quero me preparar. Quero improvisar. Quero vê-lo crescer. E dar outro significado e ver o significado que ele dará a isso. Ao lado de meus grandes amigos.
Me trouxe uma música: o dia está terminando e Imagine, do John Lennon, surge para mim. Assim, sem eu pedir.
E eu quero desejá-la a Gael.

Imagine there's no Heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people
Living for today

Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace

You may say that I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will be as one

Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world

You may say that I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will live as one


E conhecer mais as coisas de dentro da gente.

domingo, 7 de março de 2010

Filmes que amo 2

No embalo da bela homenagem ao diretor John Hugues, falecido ano passado, uma das sequências que mais assisti na vida.
E não me canso.

sábado, 6 de março de 2010

Johnny Alf, por onde andou você?


Quase dois meses sem escrever e lá venho eu falando de morte... Mas me dá um alívio estranho quando a notícia de morte vem seguida de uma excelente existência. Como é o caso tanto do fanático por livros José Mindlin e o fanático pela boa música, como Johnny Alf.

Aqui um texto do Ruy Castro da Folha de hoje, sobre Alf e a importância dele para a nossa música, coisa que deve aparecer mais agora...

RUY CASTRO

Rapaz de bem
Em dezembro, Leny Andrade e Alayde Costa fizeram um show em homenagem a Johnny Alf no teatro Ginástico. Foram duas horas de amor, em que Leny e Alayde falaram de Johnny e cantaram seus clássicos e canções obscuras. Todos sabiam que sua saúde estava por um fio, mas não se pronunciou a palavra morte.
Não era necessário. Ali se tratava de celebrar a música, a beleza, o talento, a vida. Fazia-se por Johnny Alf o que deveria ter sido feito com frequência e em todos os anos: promover recitais, concertos e canjas com seus sambas - "Ilusão à Toa", "Rapaz de Bem", "Céu e Mar", "O Que é Amar", "Disa", "Fim de Semana em Eldorado", "Nós", "Eu e a Brisa" e muitos outros.
Mas não aconteceu assim, e Johnny morreu sem a consagração que bafejou em vida vários de seus contemporâneos, como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Baden Powell. Duas opiniões meio correntes acham que isso se deu por "racismo" (Johnny era negro) ou por Johnny ter trocado o Rio por São Paulo nos anos 50, antes da explosão da bossa nova (que ele ajudara a construir).
Será? Dolores Duran, o saxofonista Paulo Moura, Jorge Ben, Gilberto Gil e o próprio Baden não eram arianos, e isso não os impediu de vencer na bossa nova. E quem também saiu do Rio antes de o movimento explodir foi João Donato. Que se mudou até para mais longe: Los Angeles, onde ficou 13 anos. Pois Donato voltou em 1972, reassumiu sua cátedra e hoje é maior do que nunca.
Johnny não se sentia com uma cátedra a retomar. Por modéstia, dispensava tudo o que lhe ofereciam. Nas entrevistas, falava mais de suas admirações (Tom, entre elas) do que de si próprio. Não pedia nada para si. Era completo com sua arte. Quem fracassou fomos nós, que não soubemos dizer ao mundo o artista que tínhamos à mão.


Um pouquinho dele agora:



ou

A versão de Tim Maia para a maravilhosa Eu e a Brisa, de Alf. Achei no youtube aqueles "clipes", mas fica o prazer de ouvir. E há uma versão de Simoninha que adoro, mas não encontrei nada em boa qualidade.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Estou com vergonha, Zilda Arns


A morte de uma das pediatras mais amorosas que o planeta já abrigou me encheu de vergonha.
Não só por isso ter acontecido numa cidade devastada pela desumanidade de séculos.
Não só por ela estar lá naquele momento com um coração repleto de boas intenções e esperança, numa terra que não sabe dar amanhãs aos seus residentes.
Mas porque ela morreu com uma vida de missão mais do que cumprida. Ela valeu sua existência, ela usou essa chance de vida ao extremo. Acreditou, bolou, conseguiu.
Fico com vergonha de não fazer nada por ninguém tão significativo assim.
Vergonha de não aproveitar a chance do jeito dela.
Vergonha de olhar para ela e ser somente eu mesma.
Estou com orgulho de você, Zilda Arns. Mas com vergonha também.
Fique bem.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Notícia de vida...

Imagine um jornal televisivo começando assim.
"Boa noite. Cinco milhões e 970 mil pessoas sobreviveram essa noite na pequena cidade de Santana dos Misericórdios. Os moradores acordaram felizes e seguiram para mais um dia de vida".
Parece meio maluco, mas eu tive essa pequena viagem em minha mente após ouvir da voz de Mônica Poker, na rádio CBN, uma notícia de que um policial do Copom havia ajudado um pai e uma mãe a salvar o filho de 1 ano de idade, por telefone. O destaque, claro, era a forma: os pais ouviram as instruções do especialista pelo telefone e, enquanto uma viatura ia para a casa da família, eles conseguiram salvar o filho de uma parada cardiorrespiratória.
Uma notícia linda e o mais lindo mesmo foi ter virado notícia. Em meio a tantas mortes acontecendo nesta virada de ano, seja nas enchentes, deslizamentos ou seja na imprudência acontecida nas estradas, uma notícia de vida. Sim, alguém sobreviveu e isso foi uma coisa tão importante, digna de ser noticiada.
E eu fiquei feliz de ter ouvido. E pensei o quanto aquele clichê de 'vamos agradecer por estarmos vivos' deveria ser aplicado mais vezes.
Hoje estou feliz por estar viva.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Sustenbilida... o quê?


Eu também sou aquela que passou a separar o lixo e reparar mais no dia a dia consumista tardiamente. Se bem que minha mãe nunca me deixou desperdiçar água e não era simplesmente para pagar menos a conta: ela tinha lá uma consciência de que isso poderia dar errado no futuro. Acho que era uma apaixonada por água mesmo.
Por mais que eu pense e tenha as tais atitudes ecologicamente corretas, não tenho nem por que me gabar. Se isso que faço é o mínimo que eu poderia estar fazendo pelo planeta, então eu nem vou contar para muita gente (tudo bem que isso aqui é um blog, mas...), ou eu nem vou ficar falando que sou o máximo por isso.

Meu ponto é uma ótima entrevista que acabo de ler na Folha de S. Paulo:
Para especialista, nova classe C ignora sustentabilidade
Fábio Mariano, da ESPM, diz, porém, ser absurdo que empresas repassem custo verde a consumidor

RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais da metade dos brasileiros já fazem parte da classe C, que engloba famílias com rendas mensais entre R$ 1.000 e R$ 4.500, aproximadamente. Em seis anos, 20 milhões subiram para esta faixa -e o fluxo continua. É gente descobrindo como é bom consumir, mas que não se preocupa muito com o planeta, diz Fábio Mariano, professor da ESPM e sócio da consultoria de comportamento do consumidor InSearch.



FOLHA - A classe C pensa em consumo responsável ou só quer preço?
FÁBIO MARIANO - Ninguém se importa só com o preço. A classe C, por exemplo, vai ver quanto os eletrodomésticos consomem de energia. Mas porque ela está preocupada com a carteira, não com o mundo.

FOLHA - Então a nova classe média não quer saber, digamos, se a carne que compra vem da Amazônia?
MARIANO - Estas pessoas, que até 2000 chamávamos de excluídos, agora estão ganhando uma grana legal para fazer a festa no shopping. E há também o grande boom, que é a expansão do crédito. Mas só isso não adianta. A educação que recebem não está melhor. E precisa ter um certo aparelhamento pessoal para entender o conceito de sustentabilidade.

FOLHA - Mas os mais instruídos pagam mais por produtos verdes?
MARIANO - A classe alta até paga um pouco mais por produtos que favoreçam a sustentabilidade, mas ainda é pouco. Mesmo porque não existem muitos produtos assim no mercado. Você consegue citar dez? E, quando existem, a distribuição é restrita, não é algo disponível para as pessoas da classe C. Vai querer que peguem o ônibus para ir comprar no bairro rico?

FOLHA - Você não considera justo que o custo da sustentabilidade sobre para o consumidor, então.
MARIANO - Não. Repassar o custo da sustentabilidade é absurdo. Essa imagem de que o consumidor que quer pagar mais é consciente, enquanto o que não quer é um assassino que pretende acabar com o mundo... Vocês deliraram, né?

FOLHA - Poucos consumidores parecem pressionar as empresas...
MARIANO - Só os mais esclarecidos. Porque o consumidor tem um monte de problemas. Tem câncer, Aids, é chifrado, tem de pagar a escola do filho. Vai ter que se preocupar também com salvar o mundo quando a esposa está precisando de um medicamento? Querer que o consumidor, além de tudo, pague cinco reais numa ecobag no supermercado? Empresa que cobra ecobag não tem vergonha.


Eu adorei isso. A gente não tem a menor noção do que está pregando. Ao invés de criticar e olhar feio para o desperdício dos outros, temos é que fazer mais. Pegar nossa culpa de quem tinha a informação, de quem curtiu à beça o lançamentos dos descartáveis, etc e que agora resolveu fazer algo e continuar a viver assim até que isso seja tão natural que este post fique completamente obsoleto.
Isso é o que eu desejo para o ano que começa e os outros que ainda virão: menos dedo no nariz dos outros e mais consciência.
Não podemos deixar tudo nas "mãos" do Wall-E, não?