quarta-feira, 24 de março de 2010

Coisa de dentro da gente


Hoje eu acordei chorando. Mas não percebi. Deixei a angústia ficar me roendo o dia todo, feito um bichinho cheio de fome, de vontade.
A gente não dá nome à angústia e fica o dia todo tentando entendê-la. Passei o dia assim: pensando em fins e começos, voltas, vidas paralelas possíveis. Sonhei outras realidades. Chorei de novo, sem notar.
O bichinho continuou caminhando. Me levou ao extremo, me deu algum espaço para risadas nonsense.
Me trouxe um livro.
E uma menina e uma infância. Uma infância de descobertas e comparações. De conquistas. De poesia de criança.
Me trouxe uma boa notícia: Gael havia nascido duas horas atrás. Uma infância começando, uma infância que quero acompanhar de perto.
Mas quero ser outra.
Quero me preparar. Quero improvisar. Quero vê-lo crescer. E dar outro significado e ver o significado que ele dará a isso. Ao lado de meus grandes amigos.
Me trouxe uma música: o dia está terminando e Imagine, do John Lennon, surge para mim. Assim, sem eu pedir.
E eu quero desejá-la a Gael.

Imagine there's no Heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people
Living for today

Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace

You may say that I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will be as one

Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world

You may say that I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will live as one


E conhecer mais as coisas de dentro da gente.

domingo, 7 de março de 2010

Filmes que amo 2

No embalo da bela homenagem ao diretor John Hugues, falecido ano passado, uma das sequências que mais assisti na vida.
E não me canso.

sábado, 6 de março de 2010

Johnny Alf, por onde andou você?


Quase dois meses sem escrever e lá venho eu falando de morte... Mas me dá um alívio estranho quando a notícia de morte vem seguida de uma excelente existência. Como é o caso tanto do fanático por livros José Mindlin e o fanático pela boa música, como Johnny Alf.

Aqui um texto do Ruy Castro da Folha de hoje, sobre Alf e a importância dele para a nossa música, coisa que deve aparecer mais agora...

RUY CASTRO

Rapaz de bem
Em dezembro, Leny Andrade e Alayde Costa fizeram um show em homenagem a Johnny Alf no teatro Ginástico. Foram duas horas de amor, em que Leny e Alayde falaram de Johnny e cantaram seus clássicos e canções obscuras. Todos sabiam que sua saúde estava por um fio, mas não se pronunciou a palavra morte.
Não era necessário. Ali se tratava de celebrar a música, a beleza, o talento, a vida. Fazia-se por Johnny Alf o que deveria ter sido feito com frequência e em todos os anos: promover recitais, concertos e canjas com seus sambas - "Ilusão à Toa", "Rapaz de Bem", "Céu e Mar", "O Que é Amar", "Disa", "Fim de Semana em Eldorado", "Nós", "Eu e a Brisa" e muitos outros.
Mas não aconteceu assim, e Johnny morreu sem a consagração que bafejou em vida vários de seus contemporâneos, como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Baden Powell. Duas opiniões meio correntes acham que isso se deu por "racismo" (Johnny era negro) ou por Johnny ter trocado o Rio por São Paulo nos anos 50, antes da explosão da bossa nova (que ele ajudara a construir).
Será? Dolores Duran, o saxofonista Paulo Moura, Jorge Ben, Gilberto Gil e o próprio Baden não eram arianos, e isso não os impediu de vencer na bossa nova. E quem também saiu do Rio antes de o movimento explodir foi João Donato. Que se mudou até para mais longe: Los Angeles, onde ficou 13 anos. Pois Donato voltou em 1972, reassumiu sua cátedra e hoje é maior do que nunca.
Johnny não se sentia com uma cátedra a retomar. Por modéstia, dispensava tudo o que lhe ofereciam. Nas entrevistas, falava mais de suas admirações (Tom, entre elas) do que de si próprio. Não pedia nada para si. Era completo com sua arte. Quem fracassou fomos nós, que não soubemos dizer ao mundo o artista que tínhamos à mão.


Um pouquinho dele agora:



ou

A versão de Tim Maia para a maravilhosa Eu e a Brisa, de Alf. Achei no youtube aqueles "clipes", mas fica o prazer de ouvir. E há uma versão de Simoninha que adoro, mas não encontrei nada em boa qualidade.